Já ouviu falar de carbono azul ou blue carbon?
De carbono, provavelmente sim, afinal, a meta mais comentada e reforçada em todas as conferências mundiais sobre o clima é a diminuição das emissões de carbono.
O resultado do excesso desse elemento na atmosfera, uma vez que é impossível a natureza absorver tudo, é a formação de chuva ácida e a contribuição para o aumento da temperatura da Terra.
Porém, existem ecossistemas que “sequestram” parte do CO2, impedindo o acúmulo na atmosfera e nos oceanos.
Neste artigo, explicaremos o que é, qual a importância da captura natural feita pela natureza e os desafios no Brasil em relação a geração de créditos de blue carbon.
Boa leitura!
O que é carbono azul?
O carbono azul, ou blue carbon, é um termo que se refere ao carbono capturado da atmosfera e oceanos e armazenado nas plantas e no solo de ecossistemas marinhos e costeiros, como manguezais, pântanos salgados e ervas marinhas, que cobrem aproximadamente 49 milhões de hectares, segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
Essas áreas são encontradas em todos os continentes, exceto na Antártica. Um estudo publicado na revista Frontiers in Forests and Global Change destaca que um hectare de manguezal pode armazenar de duas a quatros vezes mais Carbono do que o mesmo tamanho de área de outro bioma, inclusive, a Floresta Amazônica.
O que favorece esse desempenho é o nível de oxigênio mais baixo do solo. Por isso, esses ecossistemas são considerados uma peça-chave entre as soluções baseadas na natureza para conter as mudanças climáticas.
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Qual a importância do blue carbon?
Os ecossistemas de blue carbon são importantes porque são habitats de várias espécies marinhas e de plantas, sendo um grande estoque natural de alimento, o que possibilita a existência da biodiversidade, além contribuir para a boa qualidade da água que chega nos oceanos e recifes.
As áreas de mangue, por exemplo, são uma barreira natural contra as ressacas do mar e ainda protegem a costa das erosões.
Mesmo assim, os ecossistemas de carbono azul são os mais ameaçados. De acordo com a UNESCO, essas áreas sofrem com degradação e destruição a uma taxa quatro vezes maior que áreas de floresta tropical.
Outro fator que ameaça a existência e as perdas de áreas ricas em blue carbon é a mudança climática. Desde a era pré-industrial (século XVII) até o século XIX, 50% dos ecossistemas costeiros de todo planeta foram perdidos. Atualmente, a taxa de redução é de 3% ao ano, em média, variando entre os tipos de ecossistema.
E por que a perda dessas áreas é tão prejudicial para o meio ambiente? O motivo é porque a degradação de mangues, pântanos e ervas marinhas transforma essas áreas em fontes emissoras de gases estufas.
Segundo a UNESCO, 19% das emissões totais globais de CO2 vêm da destruição desses ecossistemas.
Atividades do setor imobiliário que drenam áreas de manguezais matando o solo, a poluição do ar e do meio ambiente e a agricultura e a aquicultura feitas sem o respeito às normas ambientais são as principais atividades responsáveis por esses resultados.
Diante desse cenário, a principal bandeira dos biólogos, cientistas e organizações não governamentais é a preservação dessas áreas para que os biossistemas se mantenham autossustentáveis.
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Onde podemos encontrar o carbono azul?
Esse tipo de Carbono é encontrado em manguezais, pântanos salgados e ervas marinhas de todas as regiões do planeta, com exceção dos pólos. As áreas cobertas por cada ecossistema são de 13,8 a 15,2 milhões de hectares (Mha), 2,2 a 40 Mha e 17,7 a 60 Mha, respectivamente.
Conheça mais sobre cada um deles e como cada ecossistema se transformou ao longo dos anos, de acordo com a ONG The Blue Carbon Initiative:
Mangue
Os manguezais são ecossistemas de transição entre áreas terrestres e marinhas. Sua ocupação total representa apenas 0,7% da cobertura da Terra. Porém, anualmente, são perdidos 2% de mangue, o que representa 10% das emissões globais de CO2.
Segundo a geóloga e oceanógrafa do Instituto de Pesquisas Ambientais, Célia Souza, um manguezal só acaba se não tiver espaço para se alojar. Isso porque esse ecossistema sobrevive ao avanço das marés, migrando para territórios ao redor em busca de condições favoráveis à sua manutenção.
Essa característica é positiva, mas a exploração de áreas de mangue, muitas vezes, não considera a adaptação, degradando totalmente os espaços onde eles existem.
Pântanos salgados
Os pântanos salgados são ecossistemas úmidos formados pela água do mar em áreas baixas da planície litorânea. As plantas crescem sob a fina camada de água formando uma vegetação verde particular (amieiros, caniços, plantas aquáticas).
A taxa de perda varia de 1 a 2% ao ano e 50% do espaço original global ocupado pelos pântanos já foi destruído.
Ervas marinhas
As ervas marinhas cobrem 0,2% do fundo do oceano, mas armazenam cerca de 10% do carbono azul capturado por ano.
Infelizmente, esse ecossistema rico em blue carbon está sendo degradado a uma taxa de 1,5% ao ano. Até o momento, 30% da cobertura global estimada não existe mais.
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Crédito de carbono azul no Brasil: entenda como funciona
Os manguezais brasileiros são ecossistemas pequenos em área (correspondem a 0,16% do território nacional), mas que têm uma forte importância socioambiental.
O incentivo da compensação de crédito de carbono azul é uma iniciativa que começa a ganhar destaque, assim como já existe para o CO2. O objetivo é que as atividades comerciais das indústrias que impactam esse ecossistema assumam um papel ativo na sua preservação.
De acordo com o site Phys.org, o ‘Ocean 100’, o grupo de empresas que domina e lucra com a Economia Azul, inclui a indústria de transporte de contêineres, atividades portuárias, óleo e gás e construção de equipamentos.
No Brasil, os setores da agricultura, carcinicultura, turismo e desenvolvimento urbano impactam diretamente as áreas ricas em CO2 azul, como os mangues.
O mercado nacional ainda enfrenta barreiras técnicas e políticas para que as empresas sejam cobradas em relação às iniciativas que mitiguem o seu impacto. O esperado é que nos próximos anos sejam realizados investimentos que amadureçam esse processo no mercado interno para incentivar a preservação do blue carbon.
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