No mês de outubro o mercado de energia foi surpreendido com a sinalização de redução dos preços por conta da melhora das chuvas nas principais bacias do Sudeste/Centro-Oeste.
Apesar do termo “redução de preços” normalmente ser associado a uma situação boa para a maioria dos brasileiros, essa pode não ser a melhor das interpretações diante das condições de operação do sistema elétrico, que está passando pela pior crise hídrica dos últimos tempos.
Em momentos de crise hidroenergéticas,como a que estamos vivendo, a decisão do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) é de que o despacho termelétrico continue em plena capacidade, ou seja, todas as usinas termelétricas disponíveis devem gerar energia e, obviamente, as usinas devem ser remuneradas por essa geração.
A remuneração pode acontecer essencialmente de duas maneiras: através do PLD, e através de Encargos de Serviços do Sistema (ESS), quando o PLD não for suficiente para cobrir o Custo Variável Unitário (CVU) da usina.
Entenda mais os Encargos de Serviços do Sistema (ESS).
Dessa forma, com a manutenção do despacho termelétrico praticamente na sua disponibilidade máxima do sistema e com a redução do PLD, maior é o peso do custo do despacho que vai para encargos.
O gráfico mostra os níveis diários totais da geração termelétrica do SIN, a Geração Fora da Ordem de Mérito (GFOM) e o PLD da região Sudeste/Centro-Oeste em 2021.
No gráfico é possível observar que desde meados de agosto o despacho termelétrico está em cerca de 21 GWm e vem se mantendo desde então.
Nesse período o PLD esteve acima do máximo regulatório, muitas vezes cobrindo os custos de grande parte das térmicas. Entretanto, a partir da segunda semana de outubro, com o início da queda do PLD e a manutenção do despacho termelétrico, houve uma rápida elevação do despacho fora da ordem de mérito (GFOM), que já chega a uma representatividade de 45% da geração total do SIN.
A perspectiva da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) é de que esse custo chegue próximo aos R$ 4 bilhões, que ainda deve ser acrescido às outras parcelas do encargo, podendo chegar a mais de R$ 4,8 bilhões só referente ao mês de outubro, o que representa cerca de R$92/MWh adicionais na liquidação financeira de todos os consumidores do sistema (livres e cativos), através do ESS, o maior valor do encargo desde que se tem registro (2013).
Com o aumento das chuvas previstas à medida que nos aproximamos do período chuvoso da região sudeste, a perspectiva de redução do PLD nas próximas semanas se mantém, o que colabora para um ESS ainda maior no mês de novembro.
Importante lembrar que, a definição do volume de energia gerado fora da ordem de mérito é competência do CMSE junto a CREG (Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética), que pode revisar a decisão do GFOM a qualquer momento. Logo, é possível que determinem uma redução do montante despachado e assim o ESS recue nos próximos meses.
Acompanhamento do PLD
O mês de outubro apresentou o PLD abaixo do teto regulatório com os submercados Sudeste/Centro-Oeste, Sul e Norte acoplados durante todo o período e fechando o mês em R$ 249,36/MWh.
Já o Nordeste apresentou desacoplamento para baixo em relação aos demais submercados em algumas horas durante o mês, fechando assim em R$ 248,97/MWh.
O patamar mais baixo de PLD para o mês de outubro também foi o principal fator na redução de amplitude do PLD diário e redução de sua volatilidade horária.
Acompanhamento da Carga
O consumo no mês de outubro iniciou com uma redução devido a uma frente fria associada às chuvas da região Sudeste e Sul na segunda semana operativa do mês.
Já na terceira semana a redução do consumo foi decorrida em função do feriado de 12/10, e já mostrou uma recuperação da carga na semana seguinte.
Vale destacar que no próximo mês é publicada a próxima revisão quadrimestral da carga, que é a expectativa de carga mensal do Operador Nacional do Sistema (ONS) para o ciclo 2022 à 2026.
Acompanhamento dos reservatórios
O reservatório equivalente do submercado Sudeste/Centro-Oeste fechou o mês em 18,2% da sua capacidade máxima, sendo assim o primeiro mês de replecionamento dos reservatórios desde o mês de abril.
Isto ocorre por conta das medidas adotadas pelo governo para a recuperação dos reservatórios e principalmente por conta da melhora das chuvas no mês de outubro.
Ainda assim, os níveis de reservatórios não são confortáveis e se apresentam próximos do mínimo histórico dos últimos 25 anos.
Entenda como o nível dos reservatórios impacta a geração de energia.
Tenha acesso à análises e estudos detalhados sobre o Mercado Livre de Energia e conte com a nossa expertise. Fale com um de nossos especialistas