GSF é mais uma sigla do setor elétrico que é preciso conhecer, pois ela está diretamente relacionada ao funcionamento de todo o mercado e aos ganhos das usinas geradoras.
Além disso, quando o país passa por um período de poucas chuvas, a pauta do GSF ganha ainda mais força e aparece mais nos noticiários. Mas por quê? O que há de comum entre esses assuntos?
É justamente isso que vamos te ajudar a entender neste artigo.
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O que é o GSF?
GSF é a sigla para o termo em inglês “Generation Scaling Factor”, uma medida de risco hidrológico. Ele é um fator de “rebalanceamento” e determina quanto cada usina vai receber de energia, independentemente do quanto produziu, já que considera a capacidade de produção de todo o sistema.
Aqui explicamos a aprovação do GSF pelo Senado.
Mas o que é risco hidrológico? É o risco climático que existe na operação das usinas hidrelétricas. Basicamente, se não chove, as usinas têm sua capacidade de geração de energia reduzida, o que afeta o GSF.
Por consequência, todas as usinas do sistema recebem menos energia para vender. Ou seja, é por isso que o GSF também é chamado de “risco hidrológico”, visto que a capacidade das hidrelétricas é determinada pelas condições climáticas de uma região.
Se ainda estiver confuso, vamos explicar como funciona o GSF.
Como funciona o GSF?
O setor elétrico é regulamentado por uma série de órgãos, dentre eles o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Ele é responsável pelo gerenciamento das operações de geração, transmissão e distribuição de energia no Sistema Interligado Nacional (SIN) e é fiscalizado e regulado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL).
Confira um artigo completo com todas as instituições que regulamentam o setor elétrico.
Já o SIN é o sistema em que todas as usinas são ligadas entre si e aos consumidores, enquanto o ONS controla o despacho das usinas hidrelétricas e termelétricas para garantir o equilíbrio de todo o sistema e também a preservação do meio ambiente.
Isto posto, fica mais fácil entender o papel do GSF. Cada usina tem uma capacidade de geração de energia e, quando se trata das usinas hidrelétricas, isso está diretamente relacionado ao volume de chuvas — por isso o risco hidrológico.
Em um contexto com poucas chuvas e que as hidrelétricas não são capazes de gerar toda a energia necessária para o país, o ONS para de despachar (acionar) as usinas com reservatórios com níveis mais críticos para não esgotá-los completamente, e a solução é despachar as termelétricas para garantir o abastecimento energético.
Porém, como as hidrelétricas não são despachadas, isso significa que elas não vão alcançar o volume necessário para gerar energia. Então, entra em ação o Mecanismo de Realocação de Energia (MRE).
Para entender como funciona o GSF, é importante compreender também o que é o MRE, conceito que explicaremos a seguir.
O que é Mecanismo de Realocação de Energia?
O Mecanismo de Realocação de Energia (também conhecido como Mecanismo de Rebalanceamento de Energia ou Mecanismo de Realocação de Risco) visa mitigar os riscos de geração das usinas hidrelétricas. Dessa forma, quando algumas usinas geram menos eletricidade, outras “compensam” a energia remanescente para assegurar a Garantia Física da usina e de todo o sistema.
Garantia Física é o tamanho da usina, por exemplo 800 MW (número fictício), sendo sua capacidade de geração de energia, por isso cada uma tem um valor diferente.
Para chegar neste número, são feitos cálculos que consideram a frequência de chuvas da região em que a usina está. Porém, a Garantia Física não é 100% certa, pois depende de condições climáticas, apesar de o cálculo ter um nível de confiabilidade alto.
Em um cenário de escassez de chuvas e até mesmo de crise hídrica, os níveis dos reservatórios ficam mais baixos. Logo, o ONS não despacha as usinas em questão para garantir a preservação da bacia hidrográfica daquela região.
Porém, naturalmente, essas usinas não vão alcançar a produção de sua Garantia Física, ao passo que o sistema não pode ter um déficit. O que fazer?
É feito um “rebalanceamento” da energia de todo o país. Isto é, as usinas do SIN que geraram mais energia do que suas Garantias Físicas redistribuem o excedente para aquelas que não alcançaram o que havia sido previamente acordado. O GSF é justamente esse rebalanceamento.
E mais: com um sistema de realocação de energia, as usinas que não foram despachadas não sofrem prejuízo, considerando que já tinham se comprometido em vender aquela energia.
Entenda aqui o que é déficit de energia e quais são os riscos de isso acontecer no Brasil.
Para entender melhor como funciona o GSF, confira o infográfico abaixo:
Como é calculado o GSF?
O cálculo do GSF é feito mensalmente e é a razão entre o volume de energia gerado pelas usinas no MRE e o total de Garantia Física de tais usinas, que é a geração mínima atribuída a cada usina para suprir a carga de todo o sistema.
A fórmula do GSF é:
GSF = Total de energia produzida / Total da Garantia Física
Colocando em números fictícios, imagine que o total de energia produzida pelas usinas foi de 6.450 MW, enquanto a Garantia Física total delas é de 7.000 MW. O cálculo ficaria:
6.450 MW / 7.000 MW = 0,921
Quando o GSF é igual a 1, isso significa que o sistema está atendendo toda a demanda. Agora, quando ele é menor que 1, é sinal de que ele não está suprindo o quanto deveria. Ou seja, as termelétricas precisam ser acionadas.
O GSF é o número que mostra quanto cada usina receberá de energia da sua Garantia Física considerando o total produzido por todo o sistema. O valor é colocado em porcentagem e, neste exemplo, ficaria em 92,1%. Assim, cada usina receberia 92,1% de energia da sua Garantia Física, independentemente do volume que cada uma tenha gerado.
Em outras palavras, as usinas não vendem quanto de energia geram, mas sim o que todo o sistema gera proporcionalmente, considerando os despachos da ONS feitos por conta do volume de chuvas em uma determinada região. É um grande “trabalho em equipe”.
Outro ponto importante é que, quando o GSF está baixo, os geradores podem ficar expostos ao Mercado de Curto Prazo (MCP) para honrar seus contratos de venda. Na prática, isso significa ter que comprar energia extra para suprir a demanda previamente acordada.
No MCP são contabilizadas as diferenças entre a energia contratada e o volume que foi realmente gerado ou consumido. O preço é determinado pelo Preço de Liquidação de Diferenças (PLD), referência de valores no Mercado Livre de Energia.
Falando em PLD, aproveite para baixar nosso e-book gratuito que explica tudo sobre PLD horário.
O que é a repactuação do risco hidrológico?
A repactuação do risco hidrológico é uma proposta aprovada pela ANEEL em 2020 que surge como solução para o entrave bilionário relacionado ao GSF que impactava o Mercado de Curto Prazo.
Com a repactuação, os geradores do Ambiente de Contratação Livre (ACL) podem ser compensados, já que os agentes devem abrir mão das ações judiciais que estavam impedindo a liquidação completa do mercado desde 2012. Por consequência, isso resolveria os débitos pendentes na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) e melhoraria o cenário das negociações no MCP.
Para contextualizar, algumas usinas começaram a entrar com ações judiciais para não ter que arcar com os custos adicionais do GSF, os quais são considerados inadimplências na CCEE.
O tema do GSF é técnico e pode ser um pouco mais desafiador entendê-lo. Para saber mais e tirar todas as suas dúvidas, você pode contar com a Esfera Energia, consultoria em gestão de energia para geradores de todos os tipos de fonte.